Cresci em Curitiba, mas nasci em Sorocaba, no interior de São Paulo. Minha mãe era retirante de Princesa Isabel, na Paraíba, e fugiu da miséria e da violência para se juntar à irmã mais velha. Eu ainda estava no ventre quando meu genitor foi preso e transferido para o Paraná. Minha mãe então se mudou para a Vila Macedo, em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, onde minha infância foi marcada pela realidade dura da periferia: violência, trabalho infantil, drogas e falta de saneamento básico.
Aos 11 anos, comecei a estudar em Curitiba graças aos patrões da minha mãe, que pagavam minha passagem de ônibus. Em 1994, ao ouvir uma fita de rap pela primeira vez, senti uma conexão profunda com aquelas palavras—foi como se meus pensamentos finalmente fizessem sentido. Conheci o Centro de Curitiba, os meninos em conflito com a lei e seus cotidianos. Aos 14 anos, minha família se mudou para Pinhais porque meu irmão sofria ameaças em Piraquara. Com baixa frequência escolar e rendimento fraco, concluí o fundamental por supletivo. Enquanto fazia o ensino médio, meu genitor saiu da prisão e foi assassinado pouco depois.
Na Biblioteca Pública do Paraná, descobri o xadrez e passei a competir em torneios municipais, estaduais e nacionais. Mas percebi que as pessoas ao meu redor, de classe média e alta, viviam realidades muito diferentes da minha—não precisavam do mesmo instinto de sobrevivência, nem lidavam com necessidades imediatas como eu e meus amigos da periferia, com quem compartilhava raça, música e lutas.
Em 2004, depois de um período à beira do crime e do desespero, entrei em Ciências Sociais na UFPR, mas tive que trancar porque os horários não batiam com meu trabalho. Em 2007, enquanto me preparava para o curso de Direito, perdi meu irmão João, assassinado durante um assalto à empresa onde trabalhava.
Sou graduado e mestre em Direito pela UFPR, com pesquisas em Direito Penal, Criminologia e Sociologia da Violência. Trabalhei na Defensoria Pública do Paraná, fui professor universitário e advogado popular. Mantenho laços com meus amigos de infância e juventude—alguns presos, condenados a décadas na cadeia; outros, viciados em crack; e poucos que, depois do trauma do cárcere, se agarram a trabalhos precários e braçais.
Tenho uma filha, Aurora, que é minha luz.
Minhas bandeiras como deputado são dignidade, educação, segurança, moradia e equidade. Sei o poder que a educação tem para libertar, e quero que essa transformação chegue a todos e todas.