Cassiano foi baleado no ombro por um policial militar, na manhã de terça-feira (20), no Jardim Primavera, na zona norte de Londrina
Policiais militares da Rotam (Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas) balearam um inocente durante suposta perseguição na terça-feira (20), em Londrina, no Norte do Paraná. Segundo testemunhas, mesmo admitindo o erro, os policiais teriam dito que havia uma arma na casa onde aconteceu a ação, no Jardim Primavera, zona norte da cidade, para fraudar uma versão de confronto.
O pedreiro Cassiano Calastro da Silva, de 30 anos, que não tem antecedentes criminais, estava desarmado e foi baleado no ombro, dentro da própria casa. Ele foi encaminhado ao Hospital Universitário de Londrina (HU), onde deve passar por uma cirurgia para remoção do projétil alojado. O estado de saúde dele é estável, segundo o hospital.
Cassiano foi alvejado por engano durante uma ocorrência em que os policiais da Rotam estariam procurando por um suspeito foragido, que teria baleado ex-companheira na madrugada de terça-feira, em Cambé, na região metropolitana de Londrina.
Segundo testemunhas, a polícia chegou à casa de Cassiano já atirando. Ele foi baleado no ombro e aos gritos conseguiu se identificar. Os policiais reconheceram que não era ele o suspeito procurado.
A polícia divulgou para a imprensa local, que repetiu a versão, que houve uma “troca de tiros”.
No site da TV Tarobá, afiliada da TV Band no Paraná, a notícia diz que “segundo a polícia, ao chegarem à residência, as equipes perceberam que dois homens tentaram fugir. Nesse momento, um deles teria apontado uma arma para os policiais, iniciando o confronto”.
É mentira, segundo testemunhas. A versão também é rechaçada pela família. Cassiano é irmão de uma ex-namorada do foragido que já teria morado na mesma casa. Por isso, a polícia foi àquela residência. A vítima afirma que não estava com o foragido e que o homem também não estava na residência.
Mesmo sem qualquer prova de que Cassiano esteja envolvido em crime, a Polícia Militar mantém escolta no hospital e a vítima está impedida de ver a família.
O irmão de Cassiano detalhou a situação:
“Na terça-feira (20) de madrugada, 5 horas da manhã, um rapaz tentou um homicídio contra a vida de uma mulher. E essa mulher é tia da ex-mulher do meu irmão. Chegou a informação para os policiais de que esse rapaz estaria escondido aqui em casa. A sobrinha dessa mulher que está internada mandou mensagem pra mim perguntando se ele estaria aqui. E eu falei que não. Ela ligou pro meu irmão e ele confirmou a mesma coisa. Perto das 6 horas, o policial encostou aqui e já desceram do carro e entraram atirando. Efetuaram cinco disparos. Dentro da casa estava o meu irmão, a namorada dele e o afilhado dele. Meu irmão correu pelos fundos com medo. Os policiais deram mais três tiros. Dois na frente e um pegou no meu irmão, e três tiros no fundo. Meu irmão foi encaminhado para o HU. Está estável. Ele vai fazer cirurgia para retirada da bala. Não pegou nenhum órgão. E ele está sob escolta, porque os policiais alegam que foi ‘confronto’, mas com ele não foi encontrado nada”, diz o relato na íntegra.
O deputado estadual Renato Freitas deve oficiar a Corregedoria da Polícia Militar e o Ministério Público para cobrar investigação rigorosa do caso.
O departamento jurídico do mandato de Renato Freitas pediu acesso ao Boletim de Ocorrência feito pelos policiais militares e a delegacia negou. A família também não conseguiu acesso ao documento, mesmo pedindo presencialmente na delegacia.
Segundo o atendente, um inquérito já foi instaurado.
Terror em Londrina
Nos últimos anos, moradores periféricos de Londrina convivem com uma escalada de violência policial, que piorou após manifestações em fevereiro deste ano.
Os protestos aconteceram após a morte dos jovens Kelvin e Wender. Eles foram assassinados a tiros na noite de 15 de fevereiro, na Favela da Bratac, na zona norte de Londrina.
Segundo as famílias, os jovens, que eram colegas de trabalho, voltavam de uma comemoração quando foram executados.
Depois de protestos de moradores, “a PM passou a aterrorizar e já executou outros jovens na cidade. O clima é de terror na periferia”.
Na última semana, o Ministério Público do Paraná (MP) informou que os policiais envolvidos no caso foram ouvidos na investigação.
Todos têm antecedentes de confrontos que foram parar na Justiça.
Um dos policiais tem tatuagens de caveiras nos braços que seriam as pessoas que já matou. São mais de trinta.
Acompanhado pelo MP, o inquérito sobre a morte de Kelvin e Wender deve ser concluído até 6 de junho.