Seju enviou resposta ao deputado Renato Freitas sobre morte de jovem dentro de Centro de Socioeducação em Londrina. Além de servidores que estavam de plantão no dia 21 de abril, internos também foram interrogados. Transferências foram realizadas no dia seguinte
Servidores que faziam plantão no Centro de Socioeducação Londrina II (Cense Londrina II) no dia da morte do jovem Ezequiel Geraldo Melo, de 18 anos, são investigados pela Corregedoria do órgão. A informação foi confirmada pela Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania (Seju) nesta segunda-feira (26).
Na sexta-feira (23), a promotora Danielle Tuoto, da 27° Promotoria de Londrina, afirmou que em paralelo há um inquérito policial, uma ação judicial e um procedimento do Ministério Público para investigar a morte suspeita de Ezequiel. A informação foi tratada em reunião do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cedca).
O promotor responsável pela análise do processo é Marcelo Briso, da Promotoria da Infância e Juventude de Londrina.
Resposta
Em ofício de resposta enviado ao deputado estadual Renato Freitas (PT-PR), a Seju afirmou que a direção do Cense “prestou suporte nos trâmites junto ao Instituto Médico Legal (IML) e a Administração dos Cemitérios e Serviços Funerários de Londrina, com o apoio da Prefeitura de Londrina, garantindo o custeio do velório e sepultamento”, embora não haja previsão legal para isso.
No Informativo Técnico, a Seju afirmou também que “foram ofertados atendimentos psicossociais aos familiares, aos adolescentes da ala e aos servidores envolvidos, com o objetivo de mitigar os impactos emocionais”.
A família nega: “Ninguém veio ao menos me ligar pra saber como estou”, diz parente de Ezequiel.
O laudo da Polícia Científica deveria ficar pronto em 30 dias, mas até esta segunda-feira (26), um mês e cinco dias depois da morte de Ezequiel, a família ainda não recebeu qualquer informação oficial sobre a causa da morte.
Perguntas
A Coordenação de Comunicação do deputado Renato Freitas relacionou uma série de perguntas ainda não respondidas e reenviou à Seju via assessoria de imprensa.
As perguntas são as seguintes:
1 – O jovem “F.D.T” foi transferido no dia seguinte da morte. Quantos mais? Os transferidos são maiores de 18 anos?
2 – Funcionários foram transferidos ou afastados? Quantos respondem sindicância sobre o caso? Quem são?
2 – Qual horário do óbito de Ezequiel?
3 – Já foi esclarecido por que um funcionário disse às 22h que Ezequiel havia se suicidado após atear fogo em um colchão e, depois, às 4h, outro disse que foi enforcamento com um lençol?
4 – Na rotina do Cense, qual atividade dos jovens no horário em que ocorreu o óbito?
5 – Ezequiel estava sozinho numa cela? Por quê? Quantos jovens estavam sozinhos em celas no momento do óbito? Quantos havia na unidade no dia?
6 – Laudo foi concluído? Qual a causa da morte?
7 – As transferências estão relacionadas à morte de Ezequiel?
8 – Ezequiel foi “incitado” a “suicídio”? Por quem? Funcionários do Cense participaram?
9 – No momento do óbito, quem estava responsável pela vigia e tutela do jovem? Quantas pessoas serão responsabilizadas?
10 – Ezequiel tinha 18 anos. Seu nome não poderia ser divulgado?
11 – Os transferidos também tinham 18 anos?
12 – Como aconteceu o ferimento na parte de trás da cabeça de Ezequiel?
13 – O processo segue em sigilo por envolvimento de menor de idade? Ezequiel já tinha 18 anos quando morreu. Completou em 5 de abril.
Seju ainda omite da família suspeita de assassinato dentro de Cense em Londrina
Morte do jovem em abril é mistério até para a família. Ministério Público foi oficiado pelo gabinete do deputado e abriu investigação.
A família de Ezequiel Geraldo Melo, de 18 anos, morto em 21 de abril dentro do Centro de Socioeducação (Cense) de Londrina II, no Norte do Paraná, está há mais de um mês sem resposta oficial sobre a causa da morte do jovem.
Em uma primeira versão, informada por telefone na noite do dia 21 de abril, funcionário do Cense teria dito que Ezequiel “ateou fogo em um colchão” e que teria morrido ao inalar fumaça.
Por volta das 4h da madrugada do dia 22 de abril, outro funcionário teria dito também por telefone que o jovem “se suicidou com um lençol”. No atestado de óbito, no espaço destinado à causa da morte, consta “a concluir”. O laudo da Polícia Científica deveria ter ficado pronto na última sexta-feira (23).
Ferimentos
O corpo foi visto pela família no Instituto Médico Legal de Londrina por volta das 10h do dia 22 de abril. Segundo relato de pessoa próxima, o corpo já estava com marcas de embalsamamento, com corte costurado no peito, mas chamou atenção que havia um “ferimento na parte de trás da cabeça”.
Mentiras
Questionado por pessoa próxima, um funcionário do Cense, que teria liberado o corpo ao IML, disse que “Ezequiel caiu do beliche” um dia antes de morrer. Também teria dito que o rapaz estava sozinho em uma cela.
A informação foi contestada por fontes que conhecem o interior do Cense Londrina II, pois todos os adolescentes dividem os espaços de dormitórios com pelo menos dois outros jovens. Ezequiel estaria com outros três no mesmo alojamento.
Movimentação
Apuração jornalística também apontou que o jovem F.R. foi transferido de Londrina para Curitiba no dia seguinte. Existe a suspeita de que a transferência esteja relacionada à morte de Ezequiel.
Outra fonte relatou que funcionário do Cense “comemorou” a morte do rapaz em rede social. Outros teriam manifestado publicamente satisfação.
Histórico
Ezequiel foi apreendido duas vezes, ambas por tráfico de drogas. Na primeira, aos 16 anos, foi abordado no bairro Maria Cecília e agredido por policiais militares, ao que reagiu e disse que mataria os policiais. Na segunda vez, também por tráfico, Ezequiel foi apreendido no bairro Marisa, e relatou ter passado por horas de tortura.
PM do tráfico
Ele estava há cinco meses no Cense II quando morreu. Testemunhas relataram que ele poderia ter dívidas com o tráfico ligado a policiais militares. Ezequiel completou 18 anos em 5 de abril e estava para sair do Cense quando morreu.
Amado e sozinho
A família contou que Ezequiel foi abandonado pela mãe aos 8 anos de idade. Ela era usuária de drogas. A criança passou a morar com o pai, que o amava e “cuidava muito bem dele”. “Era um adolescente normal, revoltado pelo abandono da mãe, mas vivia bem com o pai”, diz um relato.
O pai de Ezequiel sofreu um infarto quando o jovem completou 15 anos de idade, o que impediu que continuasse a cuidar do filho.
Nessa época, o adolescente foi morar com a mãe usuária de drogas. “Foi aí que ele ficou desesperado e revoltado”, conta uma pessoa próxima.
Ezequiel foi custodiado pelo Estado em dezembro e entregue morto ao pai em abril.
O corpo foi velado e enterrado no dia 22 de abril à tarde, menos de 24 horas após a morte.
O velório foi no cemitério Jardim da Saudade, em Londrina. A família relatou que não teve custo algum, que “o Cense pagou tudo”. A Seju esclareceu que o velório e o enterro foram custeados por um programa da Prefeitura de Londrina.
O enterro foi no cemitério particular Parque das Alamandas, também em Londrina.
As fontes dessas informações pediram sigilo por medo de retaliação de traficantes, policiais e do Estado.
Ministério Público
O Ministério Público do Paraná deve investigar o caso. O deputado estadual Renato Freitas (PT-PR) enviou, no dia 16 de maio, ofício com informações sobre o caso e pedindo a investigação pela 27ª Promotoria de Londrina, cujo titular é o promotor Marcelo Briso Machado. Em paralelo, a promotora Danielle Tuoto, também de Londrina, é responsável por ação que acusa o governo do Paraná de não usar recursos destinados por fundos temáticos aos Centros de Socioeducação.
Freitas também enviou ofícios à direção do Cense Londrina II e à Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania, responsável pelo aparelho, para que providências sejam tomadas imediatamente.