Inocente baleado pela PM em Londrina perde movimento das pernas

Cassiano Calastro da Silva, de 30 anos, recebeu alta depois de 25 dias no hospital; policiais estariam intimidando a família

O pedreiro Cassiano Calastro da Silva, de 30 anos, que teve a casa invadida e foi baleado pela Polícia Militar sem justificativa, perdeu o movimento das pernas. Ele recebeu alta hospitalar nesta semana. 

O crime aconteceu em 20 de maio. Policiais militares da ROTAM (Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas) balearam o inocente durante suposta perseguição. 

Segundo testemunhas, mesmo admitindo o erro, os policiais teriam dito que havia uma arma na casa onde aconteceu a ação, no Jardim Primavera, Zona Norte da cidade, para fraudar uma versão de confronto. Na verdade, Cassiano, que não tem antecedentes criminais, estava desarmado e foi baleado dentro da própria casa. 

Ele passou por cirurgias para remoção do projétil alojado e correção de danos. Cassiano ficou internado por 25 dias no Hospital Universitário de Londrina (HU). 

Depois de ter recebido alta, ele foi para casa sem os movimentos das pernas, sendo necessário o uso de cadeira de rodas, cama hospitalar, sonda e colete para coluna que foi comprometida com os ferimentos da bala.

A advogada da família afirma que “não houve audiência de custódia nem foi colhido o depoimento”. 

O pai e a esposa de Cassiano afirmam que estão com medo e que já houve intimidação da polícia.

“O pedido da família era para orientação jurídica, em especial com medida protetiva, porque alguns policiais têm retornado a casa onde aconteceu o incidente”, afirma a advogada.  

A família também deve pedir reparação indenizatória ao Estado pelo dano físico e mental causado a Cassiano e a todos que o cercam. 

Além disso, a advogada destaca que o colete usado pelo agora deficiente físico custa muito caro. “O que eles conseguiram ainda não é o adequado ao tratamento e sessões de fisioterapia”, afirma. 

 

Engano

Cassiano foi alvejado “por engano” durante uma ocorrência em que os policiais da ROTAM estariam procurando por um suspeito foragido, que teria baleado ex-companheira na madrugada do dia 19 de maio, em Cambé, na Região Metropolitana de Londrina.

Segundo testemunhas, a polícia chegou à casa de Cassiano já atirando. Ele foi baleado e aos gritos conseguiu se identificar. Os policiais reconheceram que não era ele o suspeito procurado. 

A polícia divulgou para a imprensa local, que repetiu a versão, que houve uma “troca de tiros”. 

No site da TV Tarobá, afiliada da TV Band no Paraná, a notícia diz que “segundo a polícia, ao chegarem à residência, as equipes perceberam que dois homens tentaram fugir. Nesse momento, um deles teria apontado uma arma para os policiais, iniciando o confronto”. 

É mentira, segundo testemunhas. A versão também é rechaçada pela família. Cassiano é irmão de uma ex-namorada do foragido que já teria morado na mesma casa. Por isso a polícia foi àquela residência. A vítima afirma que não estava com o foragido e que o homem também não estava na residência.

Mesmo sem qualquer prova de que Cassiano esteja envolvido em crime, a Polícia Militar manteve escolta no hospital e a vítima ficou impedida de ver a família. 

O irmão de Cassiano detalhou a situação:

“Na terça-feira (20) de madrugada, 5 horas da manhã, um rapaz tentou um homicídio contra a vida de uma mulher. E essa mulher é tia da ex-mulher do meu irmão. Chegou a informação para os policiais de que esse rapaz estaria escondido aqui em casa. A sobrinha dessa mulher que está internada mandou mensagem pra mim perguntando se ele estaria aqui. E eu falei que não. Ela ligou pro meu irmão e ele confirmou a mesma coisa. Perto das 6 horas, o policial encostou aqui e já desceram do carro e entraram atirando. Efetuaram cinco disparos. Dentro da casa estava o meu irmão, a namorada dele e o afilhado dele. Meu irmão correu pelos fundos com medo. Os policiais deram mais três tiros. Dois na frente e um pegou no meu irmão, e três tiros no fundo. Meu irmão foi encaminhado para o HU. Está estável. Ele vai fazer cirurgia para retirada da bala. Não pegou nenhum órgão. E ele está sob escolta, porque os policiais alegam que foi ‘confronto’, mas com ele não foi encontrado nada”, diz o relato na íntegra. 

O deputado estadual Renato Freitas enviou ofício à Corregedoria da Polícia Militar e ao Ministério Público para cobrar investigação rigorosa do caso.

O departamento jurídico do mandato de Renato Freitas pediu acesso ao Boletim de Ocorrência feito pelos policiais militares e a delegacia negou. A família também não conseguiu acesso ao documento, mesmo pedindo presencialmente na delegacia. 

Segundo o atendente, um inquérito havia sido instaurado.

 

Terror em Londrina 

Nos últimos anos, moradores das periferias de Londrina convivem com uma escalada de violência policial, que piorou após manifestações em fevereiro deste ano. 

Os protestos aconteceram após a morte dos jovens Kelvin e Wender. Eles foram assassinados a tiros na noite de 15 de fevereiro, na Favela da Bratac, zona norte de Londrina.

Segundo as famílias, os jovens, que eram colegas de trabalho, voltavam de uma comemoração quando foram executados. 

Depois de protestos de moradores, “a PM passou a aterrorizar e já executou outros jovens na cidade. O clima é de terror na periferia”. 

Na última semana, o Ministério Público do Paraná (MP) informou que os policiais envolvidos no caso foram ouvidos na investigação. 

Todos têm antecedentes de confrontos que foram parar na Justiça. 

Um dos policiais tem tatuagens de caveiras nos braços que seriam as pessoas que já matou. São mais de trinta.

Acompanhado pelo MP, o inquérito sobre a morte de Kelvin e Wender deve ser concluído até esta sexta-feira (6).

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autor

Brunna