Vigilantes são presos por espancarem e matarem pessoa em situação de rua em Curitiba. “Avanço do fascismo”, diz Renato Freitas

Deputado cobra investigação da rede que financia perseguição a pessoas vulneráveis. Espancamentos se repetem em diversos bairros da cidade

Três vigilantes foram presos nesta quarta-feira (16) por envolvimento na morte de Elias Andrade Lopes da Silva, de 30 anos, que foi espancado e morto em 26 de junho no bairro Rebouças, em Curitiba. Os três homens de 25, 28 e 32 anos, presos pelo homicídio, são suspeitos de terem participado de espancamentos também no bairro Prado Velho.

Elias, que vivia em situação vulnerável, foi assassinado na área externa de um posto de combustível. Imagens e testemunhas mostram que ele chegou pedindo socorro e sendo perseguido pelos vigilantes. A vítima foi espancada por quase 30 minutos.

Os agressores teriam justificado o assassinato dizendo que a vítima “praticava furtos”.

O deputado estadual Renato Freitas manifestou indignação com o caso. “É o avanço do Fascismo. Basta alegar que a pessoa praticava furtos para que os assassinos fiquem à vontade para cometer crimes hediondos com aval do ‘cidadão de bem’. Quem assiste isso calado ou, pior, incentiva esse tipo de comportamento fascista tem parte nos assassinatos e espancamentos. Os fascistas acham que têm licença para matar e são legitimados por uma população embrutecida, desumanizada pela guerra cultural promovida por grande parte de políticos, autoridades policiais e pela mídia”, resume.

Além de socos e pontapés, os homens se utilizaram de cassetetes, de uma barra de ferro e de um martelo para agredir Elias. “Estavam fantasiados de nazistas aterrorizando as ruas da cidade”, compara Renato.

“Em todas as ocasiões, os suspeitos  vestiam máscaras balaclava e usavam um veículo pertencente a empresa de segurança a qual prestavam serviços, além de instrumentos como cassetetes, facas e barras de ferro”, diz a Polícia Civil (PC).

Em texto publicado pela PC, o delegado responsável pela investigação confirmou que “furtos” motivaram o assassinato. “As agressões teriam acontecido porque ele estaria praticando furtos no bairro onde o fato ocorreu”, disse.

“Há a suspeita de que eles sejam os mesmos indivíduos que agrediram e esfaquearam dois moradores de rua no bairro Prado Velho, na madrugada do dia 10 de julho deste ano. Um deles, inclusive, já foi reconhecido por uma testemunha”, diz a Polícia Civil. “Nesse último caso, além das agressões, uma das vítimas foi esfaqueada nas costas, próximo ao pulmão, e se encontra internada em estado grave”, diz.

Em outro caso a vítima teve as mãos queimadas.

Durante as investigações, testemunhas relataram que os episódios de agressões a pessoas em situação de rua são recorrentes, também sendo referido que os indivíduos costumam atear “fogo nos barracos onde essas pessoas dormem”.

Renato Freitas cobra que as investigações avancem para saber quem são os financiadores da milícia paga para espancar pessoas vulneráveis. “Quem está por trás da empresa de segurança e qual foi a ordem a esses assassinos fantasiados?”, questiona o deputado.

Um dos presos tinha passagem por violência doméstica em outro Estado. O nome da empresa de vigilância não foi divulgado.

Fascismo

Umberto Eco define o Ur-Fascismo (“fascismo eterno”) não como uma ideologia coesa, mas como um fenômeno psicológico e cultural adaptável, cujas características podem surgir em contextos históricos distintos. Sua análise, baseada em vivências sob o regime fascista de Mussolini e em estudos semióticos, revela 14 traços que funcionam como “fragmentos de um quebra-cabeça”: basta um para ativar uma nebulosa fascista.

O fascismo histórico foi derrotado, mas seu “espírito arquetípico” (Ur-Fascismo) sobrevive como síndrome adaptável, capaz de ressurgir sob novas roupagens. Eco alertava contra a banalização do termo “fascista” e a ascensão de nacionalismos pós-Guerra Fria

As 14 características do fascismo eterno

1. Culto a uma tradição inventada

2. Rejeição do modernismo e da razão

3. Culto à ação pela ação

4. Intolerância à divergência

5. Medo da diferença como eixo unificador

6. Apelo às frustrações das classes médias

7. Obsessão com conspirações

8. Inimigo simultaneamente forte e fraco

9. Pacifismo é traição

10. Elitismo populista

11. Culto à morte

12. Machismo armado

13. Populismo qualitativo

14. Novilíngua

 

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autor

Narley Resende