Renato Freitas pedirá providências à Corregedoria da PM sobre as ações violentas contra a comunidade do Bratac. Moradores são alvos de perseguição pela polícia desde que protestaram pelo assassinato de Kelvin e Wender
Pelo menos 20 pessoas ficaram feridas ou foram intoxicadas na noite de sexta-feira (18) depois que policiais militares invadiram uma festa de aniversário e dispararam bombas de gás lacrimogênio e tiros de balas de borracha, contra quem estava em uma residência na favela do Bratac, em Londrina, no Norte do Paraná. Entre as vítimas está uma menina de 12 anos que precisou de atendimento médico. Dois homens foram espancados e mulheres foram agredidas, segundo testemunhas.
A menina ferida que precisou encaminhamento estava com uma criança no colo quando levou um tiro de bala de borracha no rosto. Ela foi levada por familiares à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro. A menina completa 13 anos neste domingo (20).
Terror na Bratac
Testemunhas contam que por volta das 23h30 policiais militares passaram em uma viatura e resolveram acabar com a festa. “Não tinha reclamação de ninguém da vizinhança”.
“Era aniversário de uma pessoa muito querida na comunidade. Eles chegaram já batendo no aniversariante e em quem chegasse perto. Só que já tinha umas quatro viaturas esperando na esquina. O povo que foi indo dispersado pra fora da casa já foram cercados pelos policiais que estavam na esquina. Eles trancaram as pessoas e ficaram atirando dos dois lados. As pessoas não conseguiam mais sair. A menina que estava com uma criança no colo foi tentar passar e tomou um tiro no meio do rosto. Eles já chegaram preparados pra fazer isso”, relata uma testemunha.
“As pessoas que estavam lá tentando fugir eram mães com crianças. Foi muita maldade e covardia”, conta.
Uma mulher que estava dentro da casa relata momentos de terror.
“Eles viram que não tinha ninguém no quintal, que só tinha a gente (mulheres, idosos e crianças) dentro da casa e começaram a dar um monte de tiro pra dentro da casa. As crianças começaram a passar mal, ninguém conseguia sair. Eu achei que todo mundo ia morrer. Uma mulher foi pedir pra eles pararem e jogaram ela longe, jogando spray de pimenta na cara. Bateram no filho dela. Foi cena de filme de terror. Eles são muito ruins, gente do mal mesmo”, conta uma mulher vítima da violência.
As primeiras imagens foram divulgadas pelo coletivo Ciranda da Paz que atua na favela. O relato foi de indignação.
“Quem vive na favela também paga impostos. Somos nós que pagamos o salário da PM — e mesmo assim, somos tratados como inimigos, como corpos que devem ser eliminados! Resultado: aniversariante preso e uma criança levada à UPA após ser atingida por bala de borracha. Até quando a favela vai ser tratada assim?”, questiona o coletivo.
Os moradores afirmam que desde fevereiro, quando Kelvin Willian Vieira dos Santos, 16 anos, e Wender Natan da Costa, 20 anos, foram executados a Polícia Militar passou a perseguir integrantes da comunidade da Bratac.
“Eles odeiam a favela porque os moradores protestaram contra as ações violentas e assassinatos. Viver aqui é um terror por causa da polícia”
Providências
O deputado estadual Renato Freitas (PT) vai pedir providências na Corregedoria da PM e mais informações sobre os policiais que participaram da ação violenta de sexta-feira (18). Renato acompanha cada passo da investigação da morte de Kelvin e Wender e reúne provas de outras ações violentas de perseguição contra moradores. “Vamos expor cada crime cometido pela polícia e seus mandantes”, diz Renato.