Renato Freitas é destaque internacional no jornal britânico The Guardian

Publicação apresenta Renato para o mundo como liderança em ascensão na América Latina

O jornal britânico The Guardian, um dos maiores jornais do mundo, publicou nesta quarta-feira (13) uma entrevista concedida pelo deputado estadual Renato Freitas (PT-PR).

A reportagem, no modelo perfil, foi publicada em inglês e apresenta Renato para o mundo. Em destaque, o jornal mencionou diversas perseguições sofridas por Renato ao longo de sua trajetória política.

“A matéria do The Guardian conseguiu traduzir a percepção que nós brasileiros e, em especial, curitibanos, temos em relação aos padrões euro-colonizadores que negam e silenciam tudo o que não é o espelho”, disse Renato.

A assessoria do deputado, coordenada pelo jornalista Narley Resende, buscou direcionar a entrevista para que incluísse pessoalidade e para que não faltassem marcos importantes, para que a publicação fosse de fato uma apresentação.

O renomado jornalista mineiro Tiago Rogero, correspondente do Guardian na América Latina, tirou suas próprias conclusões sobre Renato, Curitiba e o Paraná.

Renato fez questão de que a entrevista fosse feita na rua, em frente à igreja dos homens pretos, mas também no Largo da Ordem, por onde ele fez diversas de suas passagens históricas.

Ele estava acompanhado de amigos próximos durante a entrevista, todos curitibanos, negros e de famílias pobres.

A conversa com o jornalista foi em um banco de praça, no meio fio ou na calçada, em um dia frio e ensolarado, típico da capital paranaense.

“É como ele vê Curitiba e os curitibanos na órbita de Renato Freitas”, diz Narley Resende.

Em grupos de jornalistas, a publicação chegou a ser colocada como “marco histórico da democracia”, especialmente no Paraná.


Leia a tradução da reportagem:

A “capital europeia do Brasil” tenta expulsar político negro do cargo – novamente

Especialistas dizem que novos processos de destituição contra Renato Freitas mostram como Curitiba está mal preparada para lidar com um líder negro desafiador

Nos mais de 300 anos de história da cidade brasileira de Curitiba, nenhum vereador havia sido destituído do cargo até 2022, quando um jovem e promissor político negro local foi forçado a sair.

Renato Freitas foi acusado de “quebrar o decoro parlamentar” ao liderar um protesto antirracista que terminou dentro de uma igreja católica — ironicamente chamada de Igreja dos Homens Pretos e construída por escravizados no século XVIII.

A expulsão acabou sendo anulada pelo Supremo Tribunal Federal, mas estava longe de ser o último caso movido contra Freitas, de 41 anos, uma estrela em ascensão no Partido dos Trabalhadores, de esquerda, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Agora, um congressista estadual, ele enfrenta mais três processos de expulsão nos quais seus colegas, em sua maioria brancos e conservadores, decidirão se o removerão do cargo mais uma vez.

Ele também pode enfrentar uma sanção disciplinar por supostamente organizar um protesto de professores, o que o impediria de falar durante as sessões legislativas por um mês.

Ativistas, analistas e historiadores veem os casos contra Freitas como evidência de como uma cidade que se orgulha de ser a “capital europeia do Brasil” está mal preparada para lidar com um político negro desafiador.

“Eu entro com tudo — e isso incomoda muita gente”, disse Freitas em uma tarde de julho, exibindo seu volumoso cabelo afro, vestido com uma camiseta do Malcolm X, shorts e tênis, e dando tragadas ocasionais de maconha durante uma entrevista com uma playlist de rap tocando alto em um alto-falante que ele havia trazido.

Foi perto dali que, durante sua primeira candidatura a cargo público em 2016, Freitas foi preso sob a acusação de perturbar a paz por ouvir rap “alto demais” em seu carro e supostamente desrespeitar o policial que o abordou. Ele foi espancado e deixado nu no corredor de uma delegacia antes de ser liberado.

Freitas diz ter sido detido ou preso 16 vezes – e se tornou uma voz de destaque contra a violência policial em um estado onde, sob um governador de extrema direita, os homicídios cometidos por policiais dispararam.

Ele desafia quase todas as regras da aparência e da voz de uma figura política típica no Brasil: usa terno e gravata apenas quando estritamente necessário, fala com gírias e rimas – frequentemente citando ou parafraseando letras de rap – e tem uma história de vida que é tudo menos convencional.

“Eu era uma criança criminosa”, disse Freitas, que se lembra de roubar sorvetes e doces. “Eu não tinha acesso a essas coisas, então eu roubava.”

Ele foi criado pela mãe, empregada doméstica, em um bairro pobre perto do presídio onde seu pai estava preso, em Piraquara, a 21 km de Curitiba. Após um período irregular na escola, Freitas usou o salário que ganhava empacotando compras para pagar um curso preparatório e ingressou na faculdade de Direito, onde posteriormente obteve o mestrado.

Ele se filiou ao Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula e concorreu duas vezes antes de ser eleito em 2020, um feito nada pequeno em uma cidade que se tornou um reduto conservador. Curitiba, capital do estado do Paraná, foi sede do juiz-chefe e do procurador-geral da Operação Lava Jato – a gigantesca investigação anticorrupção que levou à prisão de dezenas de políticos, funcionários públicos e líderes empresariais de 2014 a 2021. Foi também aqui que Lula ficou preso por 580 dias.

O episódio da igreja de 2022 ocorreu poucos meses antes da eleição presidencial que Lula acabou vencendo. O então presidente Jair Bolsonaro condenou Freitas por “invadir” e “desrespeitar a Casa de Deus”. E, apesar de pertencer ao mesmo partido de Freitas, Lula disse que “cometeu um erro” e “precisava se desculpar”.

O vereador foi destituído do cargo por 25 votos a 7 de seus colegas.

Apesar de ter recuperado seus direitos políticos, Freitas ainda se ressente do comentário de Lula. “Antes de dizer que eu errei, ele poderia ter conversado comigo para saber o que aconteceu”, disse ele, acrescentando que ainda pretende fazer campanha para Lula nas eleições do ano que vem.

Entre os processos em andamento contra ele, Freitas é novamente acusado de “quebra de decoro”, desta vez por liderar um protesto dentro de um supermercado em resposta ao espancamento fatal de um homem de 22 anos que teria roubado uma barra de chocolate.

“Ele faz questão de não ser um político tradicional”, disse Adriano Codato, professor de ciência política da Universidade Federal do Paraná, observando que Freitas não está inclinado a fechar acordos com políticos da oposição. “No entanto, essa postura antipolítica pode acabar sendo menos eficaz na hora de garantir melhorias para seus eleitores, como escolas ou estradas pavimentadas.”

Para o cientista político Mateus de Albuquerque, a “resistência” do establishment político a Freitas também tem raízes raciais: “Curitiba é uma cidade que quer se apresentar como ‘europeia’ e sem negros, mas Freitas expõe o fato de que eles estão aqui e que a polícia os espanca e mata.”

Segundo a historiadora Noemi Santos da Silva, a noção de Curitiba como a “capital europeia do Brasil” surgiu na década de 1950, baseada na crença de que seu clima mais ameno, serviços públicos eficientes e grande população de ascendência europeia a tornavam uma cidade mais “civilizada”.

As atrações turísticas da cidade homenageiam sua história de imigração italiana e alemã, mas, embora quase um quarto dos moradores seja afro-brasileiro, apenas uma praça homenageia a população negra – longe das principais rotas turísticas.

“Em uma cidade que empurrou os negros para as periferias, Freitas ousou ocupar um espaço que nunca foi destinado a alguém como ele”, disse ela.

Freitas ainda não tem certeza se buscará um cargo mais alto, talvez como prefeito ou governador, mas disse: “É mais fácil se tornar presidente do Brasil do que prefeito de Curitiba, porque o país não é tão hostil a alguém como eu quanto esta cidade.”

 

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