As imagens de Yago Pires, de 20 anos, coberto de sangue sendo arrastado por policiais na manhã de 7 de outubro, no Parolin, revoltaram a comunidade e expuseram ao Paraná e ao Brasil a escalada de terror que os moradores do bairro têm sofrido há tempos, e que tem se intensificado a cada mês. Familiares, amigos e integrantes da Rede Nenhuma Vida a Menos e outros movimentos sociais se reuniram na Boca Maldita em protesto por justiça e paz na favela na noite desta quarta-feira (15).
Cartazes e faixas diziam “Parolin pede paz” e “Parem de nos matar”. Com gritos de “Não foi confronto, foi execução!”, manifestantes denunciaram a atuação violenta da Polícia Militar e pediram o fim dos assassinatos e das invasões de domicílios sem mandado judicial. O ato foi organizado pela Rede Nenhuma Vida a Menos, que acompanha casos de violência policial no bairro.
Entre os presentes estavam familiares de Yago Pires, moradores do Parolin, representantes de coletivos de direitos humanos e o deputado estadual Renato Freitas (PT), que cobrou mais apoio dos parlamentares de esquerdas em atos que denunciam a violência do Estado. Freitas pontuou que as mobilizações por justiça aos jovens assassinados em ações policiais não se traduzem em votos – por isso a ausência de parlamentares -, mas têm impacto direto na vida dos moradores da periferia.
Em setembro, moradores do Parolin já haviam realizado uma passeata pela paz cobrando medidas do poder público para conter as ações violentas da polícia. A Rede Nenhuma Vida a Menos encaminhou um ofício ao Ministério Público do Paraná, solicitando providências urgentes, mas até agora nenhuma resposta efetiva foi anunciada.
Caso Yago Pires
De acordo com relatos de familiares, Yago dormia em casa quando policiais invadiram a residência, o arrastaram até o barracão de materiais recicláveis onde trabalhava com a avó e o balearam várias vezes. Um vídeo gravado por celular mostra o jovem ainda vivo, coberto de sangue, chorando e pedindo para não ser morto, enquanto é arrastado por um policial até uma pilha de recicláveis, onde, segundo testemunhas, foi executado.
A versão oficial da PM afirma que Yago teria reagido à abordagem e morrido em confronto, tese contestada por vídeos e depoimentos de moradores.
A morte de Yago ocorre em meio a uma sequência de denúncias de execuções, invasões e intimidações no Parolin. Desde maio, ao menos cinco jovens foram mortos em circunstâncias semelhantes, incluindo um adolescente de 16 anos.
A violência policial também cresce em outras regiões do estado. Durante o governo de Ratinho Júnior, a letalidade da PM-PR atingiu níveis recordes uma média anual de 370 mortes desde 2019, quase o dobro da registrada antes de sua gestão, segundo levantamento feito pela Ponte Jornalismo com base em dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).