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Familiares desmentem versão da PM e denunciam execução, tortura e agressões em ação policial que terminou na morte de homem e cachorro no Bairro Alto

Parentes de Alexandre Vidal Alves Filho, de 32 anos, denunciam que o jovem foi executado com três tiros no terreno de casa por policiais militares na madrugada do dia 16 de outubro, no Bairro Alto, em Curitiba. Durante a ação, o pai da vítima, de 52 anos, e os avós, de 74 e 76 anos, foram agredidos e ameaçados. O cachorro da família foi morto a tiros, mesmo já imobilizado por armas de choque.

O caso ocorreu por volta da meia-noite de quinta-feira (16). Segundo os relatos, Alexandre e o pai, Alexandre Vidal Alves, retornavam de uma distribuidora de bebidas quando foram surpreendidos por uma viatura da PM que parou atrás do carro deles, já na frente da residência. Imagens de câmeras de segurança e testemunhas confirmam que não houve perseguição nem tentativa de fuga, ao contrário do que afirmam os policiais.

Assim que pai e filho saíram do veículo, sem qualquer explicação ou motivo aparente, os policiais teriam iniciado as agressões e usado armas de choque. Os gritos e barulhos chamaram a atenção dos avós, que acordaram e tentaram intervir, mas também foram agredidos.

O avô da vítima, Antônio Vidal Alves, de 76 anos, foi puxado pela gola do pijama e jogado em cima do capô do carro, sofrendo ferimentos no braço e nas costelas.

Durante a confusão, o cachorro da família, um American Staffordshire Terrier, raça conhecida por ser dócil e não violenta, e que estava solto na área externa avançou sobre um dos policiais, que o imobilizou com uma arma de choque. Sensibilizado, Alexandre filho, então, arrastou o corpo do cachorro para um canto.

A avó, Shirlei Maria Vidal Alves, tentava acalmar o neto enquanto Alexandre pai era espancado. Nesse momento, segundo ela, um policial se dirigiu até eles, disparou contra o cachorro e matou o animal, que já estava imobilizado pela arma de choque. Em seguida, o mesmo agente empurrou a idosa contra o muro da casa e atirou contra o neto, o executando. A idosa de 74 anos sofreu ferimentos na cabeça e braços.

Antônio, o avô, conta que, após perceber que o neto havia sido assassinado, xingou os policiais, e que um deles respondeu: “eu queria ter matado ele”, se referindo ao neto. O idoso afirma também que viu quando um dos agentes tentou abrir o carro da família, e questionou a ação, momento em que o militar apenas se afastou do veículo. A suspeita é de que o PM tentava forjar provas.

Vítima Fatal

Alexandre Filho foi morto por três tiros. Ele era morador de Colombo, trabalhava junto com o pai como pintor. Alexandre deixa três filhos pequenos, de 14, 10 e 8 anos. Os avós contam que as crianças estão traumatizadas e sentem medo sempre que vêem uma viatura.

“Somos trabalhadores honestos. Foi um despreparo da polícia militar. Podia ter prendido e não matado porque ele era uma pessoa do bem” afirmou Gustavo Vidal, familiar das vítimas.

Violência física e psicológica se estendeu para o hospital, delegacia e até o velório do filho

Ferido, o pai da vítima foi preso e levado ao Hospital do Trabalhador, onde, segundo ele, passou a sofrer novas agressões na porta da unidade de saúde. A vítima contou que foi hostilizada pelos funcionários do Hospital. Em seguida foi levado para delegacia, onde foi torturado novamente, com coronhadas, pauladas, chutes, socos e até mesmo tiros de borracha. Por conta das agressões, teve um dedo quebrado e além de várias escoriações pelo corpo. Os policiais se negaram a levá-lo para o exame de corpo de delito.

Alexandre foi impedido de participar do enterro do filho, tendo permissão apenas para acompanhar parte do velório, algemado e escoltado por policiais.

Ele foi acusado de resistência, desacato, direção perigosa, lesão corporal e porte de drogas para consumo pessoal. A prisão só foi revertida após intervenção de um advogado contratado graças a uma vaquinha feita pela família. Alexandre agora usa tornozeleira eletrônica e ainda não entende os motivos, já que afirma não ter cometido nenhum dos crimes pelos quais foi acusado.

Câmeras Corporais Já!

Tramita na Assembleia Legislativa do Paraná alguns projetos de lei, de autoria do deputado Renato Freitas, que buscam enfrentar a violência policial.

O Projeto de Lei 448/2019, que aguarda ser pautado pelo presidente da Casa Legislativa, torna obrigatória a instalação de câmeras de vídeo e áudio nas viaturas e uniformes da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros, com transmissão em tempo real para o sistema central e arquivamento das gravações por seis meses. O PL 38/2024 estende essa obrigação para vigilantes e seguranças privados, porque a violência não vem só do Estado.

O PL 929/2023 proíbe que agentes de segurança usem filmagens e imagens de operações em redes sociais, transformando a dor alheia em espetáculo. E o PL 25/2024 estabelece medidas obrigatórias após casos de letalidade policial, como afastamento imediato do agente envolvido e investigação independente.

“Se alguns agentes da segurança pública agem apagando provas e ameaçando testemunhas, é preciso garantir, por força de lei, que a sociedade possa ter instrumentos para se proteger da violência policial”, afirma o deputado.

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