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GM de Quatro Barras escondeu envolvimento de viatura no acidente que matou jovem motociclista

Familiares de Davi Emanuel souberam que acidente envolveu Guarda Municipal por site de notícias

A mãe de Davi Emanuel Alves, 20 anos, afirma que o filho saiu de casa apenas para ir ao mercado e cobra explicações da Guarda Municipal de Quatro Barras sobre o acidente que deixou o jovem gravemente ferido no dia 1º de novembro, resultando em morte cerebral confirmada no dia 7.

A família foi desamparada pelas autoridades, que esconderam o envolvimento de guardas no acidente, e permaneceu durante horas sem muitas informações sobre o caso.

A descoberta das informações sobre a tragédia e o envolvimento de uma viatura da guarda municipal veio à tona através da imprensa. Em uma publicação no instagram a irmã da vítima disse que os guardas municipais “não tiveram coragem de bater no peito e assumir a responsabilidade diante da minha mãe”, afirma em um dos trechos do desabafo.

Segundo relato, Davi saiu por volta das 13h50, de moto, para comprar carne em um mercado próximo de casa. Com o passar do tempo e a demora no retorno, a família começou a se preocupar. Tentaram ligar e entrar em contato com Davi, inicialmente temendo apenas que ele se atrasasse para o trabalho, ele fazia entregas em uma pizzaria da região e precisava começar o turno às 15h00.

Foi já próximo a esse horário que um guarda municipal finalmente atendeu a ligação da mãe e informou que Davi havia se envolvido em um acidente e sido encaminhado de helicóptero ao Hospital do Trabalhador, em Curitiba. “Quando ele falou assim para mim que meu filho estava sendo encaminhado de helicóptero para o Hospital do Trabalhador, eu já entrei em desespero, porque eu sou da área da saúde e sabia que tinha sido muito grave”, relatou a mãe ao Tribuna da Massa. Ela foi informada que deveria ir até o local do sinistro para pegar o celular e os demais pertences da vítima.

Ela chegou ao local, recolheu o celular e mochila e encontrou o capacete, ainda sujo de sangue. A mãe desejava ficar com todos os objetos, mas a Guarda impediu que a mãe ficasse com o capacete, que teve de ser entregue aos GMs, porém não foi guardado como evidência nem devolvido à família. A mãe da vítima registrou em Boletim de Ocorrência que, durante a madrugada, voltou ao local do acidente e encontrou o capacete que havia sido descartado em uma área de mata. Durante a entrevista ao Tribuna da Massa a mãe questionou a conduta dos agentes em relação às provas do acidente. “Por que eles não permitiram que eu levasse o capacete do meu filho? O capacete é uma prova, assim como a moto dele e a viatura. Tudo ali era prova do que aconteceu”, afirmou.

Ao chegar à unidade de saúde, a família foi informada de que Davi estava em estado grave. Ele havia sofrido traumatismo craniano, perdido o baço e um rim, além de apresentar sérias lesões na coluna e no rosto.

Somente à noite, por volta das 20h, os familiares souberam, através de uma matéria veiculada na imprensa, que o acidente envolveu uma viatura da Guarda Municipal de Quatro Barras. E que o veículo teria “furado” a preferencial sob a justificativa de estar em perseguição a uma moto que trafegava de forma perigosa.

Essa versão, no entanto, não aparece no boletim registrado pela Polícia Militar, que não menciona perseguição. Davi permaneceu internado por dias até ter a morte cerebral confirmada na sexta-feira (7).

Circunstâncias do acidente

Supostamente, os guardas transportavam para casa três mulheres após atendimento de ocorrência quando teriam visto uma moto que trafegava de maneira perigosa. Os agentes, então, iniciaram uma perseguição, eles alegam que fizeram o acionamento dos sinais sonoros e luminosos da viatura e passaram a trafegar em alta velocidade, mesmo com três mulheres no veículo, uma delas gestante.

Ao aproximar-se do cruzamento entre a Via Miguel Baduy e a Via Nilo Favaro, a viatura teria furado a preferencial, e colidido com a moto de Davi, que vinha a uma velocidade condizente a da via e sem qualquer indício de imprudência na condução de seu veículo. Um vídeo gravado de dentro da viatura mostra o momento do acidente.

O Guarda Cassiano Vuldan, que dirigia a viatura durante a perseguição, alegou ter olhado para os dois lados da rua e que só então teria atravessado. Ele alegou também que Davi pilotava em alta velocidade, mas essa versão não condiz com o vídeo do acidente e com os relatos de testemunhas.

A decisão de trafegar em alta velocidade sob a justificativa de uma perseguição, ainda não comprovada, além de resultar na morte de Davi, também colocou em risco a vida das passageiras. A prefeitura emitiu uma nota de pesar sobre o caso. E a GM informou que os guardas foram afastados preventivamente.

Carinhoso e amante da natureza: Quem era Davi

Davi Emanuel Alves, de 20 anos, é descrito pela irmã Melina Mercer Alves, como um menino muito carinhoso, até um pouco grudento. “Ele me abraçava todos os dias e dizia que me amava, era grudento até, mas não só comigo, com todo mundo”, disse.

Estudante de Tecnologia da Informação (TI), Davi estava prestes a se formar e sonhava em seguir carreira na área. A família conta que o jovem vivia uma fase extremamente feliz, pois havia começado em um emprego novo, uma empresa de logística.

Além do trabalho e dos estudos, Davi era apaixonado por natureza e aventuras ao ar livre. Gostava de subir morros da região, como o Morro do Anhangava, e tinha planos de realizar o sonho de subir o Pico Paraná, o ponto mais alto do estado. Ele estava próximo de realizar esse sonho, a subida estava marcada para o domingo em que acabou sendo velado. Após a confirmação da morte cerebral, a família decidiu respeitar o desejo de Davi e autorizar a doação de seus órgãos.

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