
A Polícia Militar do Paraná articulou na manhã desta quarta-feira (11) uma ação para convencer a imprensa de que o deputado estadual Renato Freitas (PT) teria organizado protestos em Londrina, no Norte do Estado.
O capitão Emerson Castro, da PM, segundo um jornalista, distribuiu a repórteres uma foto do crachá de uma assessora do deputado. A imagem foi compartilhada pela polícia sem qualquer proteção à identidade da profissional.
Na noite de terça-feira (10), após o início de manifestações em pelo menos nove pontos de Londrina, a assessora foi designada, pela coordenação de Comunicação do Mandato, para acompanhar os protestos que aconteceram em razão da morte do jovem Gabriel Felipe Rodrigues Dalbello, de 22 anos. Familiares e amigos acusam a PM de ter executado Gabriel.
Durante as manifestações, a profissional registrou imagens, fez entrevistas e contactou lideranças da mobilização, estando também atenta a qualquer eventual abuso policial. A fiscalização da ação estatal é parte da atividade parlamentar.
Em determinado momento da noite, por volta das 20 horas, a assessora se dirigiu à favela da Bratac – local onde moravam os jovens Kelvin dos Santos, 16, e Wender Bento, 20, assassinados pela PM em fevereiro deste ano -, quando a manifestação já estava sendo reprimida pela polícia.
Havia pelo menos 14 viaturas na Avenida Brasil, segundo contabilizado por ela. Nesse momento, a assessora e mais dois repórteres de imprensa local foram abordados por policiais militares. Um dos oficiais pediu a identificação e recolheu documentos, fotografou, devolveu e liberou as pessoas abordadas.
Não houve qualquer advertência verbal, registro de ocorrência ou encaminhamento formal da situação. Segundo o grupo, foi “uma abordagem rápida”.
“Estranhamos que ele tenha fotografado as nossas identificações e documentos, mas nada mais foi dito. Fomos liberados, acompanhamos por mais tempo o protesto. A gente foi embora normalmente no fim da manifestação, depois de registrar tudo o que foi possível. Estávamos trabalhando”, contou o repórter que presenciou a situação.
Ainda na noite de terça, o policial que teria participado da abordagem já havia compartilhado em aplicativos públicos de mensagens imagens do crachá da assessora parlamentar. Na manhã desta quarta, o capitão Castro distribuiu a foto à imprensa.
Uma emissora de TV chegou a publicar a imagem, mas coberta para que a profissional não fosse exposta como tentou fazer a PM.
O apresentador abriu o jornal transmitido no fim da manhã pela emissora local dizendo que “a polícia investiga se grupo político teria articulado parte das manifestações que aconteceram ontem no final da tarde aqui em Londrina”
Em entrevista, o capitão Castro disse que “pessoas são monitoradas e levantadas informações de porquê estarem atentando contra a ordem pública, tudo isso é levantado e esses boletins vão ser remetidos com certeza para a Justiça”.
De forma velada, a reportagem induziu telespectadores a acreditarem que Renato Freitas era o “tal deputado” citado pelo repórter, já que o parlamentar tem denunciado constantemente os crimes cometidos por policiais na cidade.
Renato Freitas está na China, em viagem patrocinada pelo governo chinês, e soube dos protestos por meio de sua assessoria.
“A gente vai pedir a foto de um crachá na tela, foram identificadas, qualificar a polícia fala, foram qualificadas três pessoas que informaram, que apontaram à Polícia Militar que elas seriam assessoras de um deputado estadual, quer dizer, fariam parte ali de um quadro de comissionados da Assembleia Legislativa do Paraná. Lembrando que a Alep, ela fica na Capital Curitiba. Agora, essas pessoas são da capital? Essas pessoas são daqui de Londrina ou da nossa região? São ligadas a este deputado estadual. É isso que a polícia quer saber. Por quê?”, disse o repórter.
Às 12h01, quando a reportagem estava no ar, a produção do programa jornalístico pediu resposta à assessoria de imprensa do deputado. Às 12h15 uma nota foi enviada, quatro minutos após o fim do programa.
Protestos
No Jardim Nossa Senhora da Paz, onde fica a favela da Bratac, na zona oeste de Londrina, após o assassinato de Kelvin e Wender, as famílias e a comunidade se organizaram de forma contínua contra a violência policial. As manifestações na época do crime se estenderam por semanas.
Desde fevereiro, segundo integrantes da comunidade, a PM reprime moradores e mantém monitoramento de pessoas que cobram Justiça.