Policial tem nos braços tatuagens de crânios que representariam pessoas que ele matou; Inquéritos relacionam pelo menos 20 mortes com envolvimento dele

O policial militar Julio Cesar da Silva, envolvido na morte dos jovens Kelvin dos Santos, 16, e Wender Bento, 20 anos, em fevereiro deste ano, já chegou a ser preso pelo assassinato do carroceiro Pedro de Melo Domingos, em março de 2016, em Londrina, no Norte do Paraná.
Pedro foi morto na frente de uma criança de 11 anos. Na época, o depoimento dela foi fundamental para que a juíza Elisabeth Khater, da 1ª Vara Criminal de Londrina, decretasse a prisão.
O caso tinha relação com uma série de assassinatos que ficou conhecida como “noite sangrenta”. Na ocasião, pelo menos doze pessoas morreram e outras 14 ficaram feridas. Não há um número oficial de mortes relacionadas à chacina, já que algumas foram tratadas individualmente pela Justiça.
Pela chacina, Julio Cesar da Silva deve ser julgado no Tribunal do Júri em sessão agendada para o dia 7 de agosto de 2025.
Apesar do histórico de mortes relacionadas a sua atuação, Julio Cesar voltou às ruas e voltou a se envolver em mortes.
O pedido de retorno de atividade de Júlio César, assim como o de outros PMs, está em sigilo; sendo disponível apenas a decisão em relação a um réu, onde a natureza foi por revogação de medidas cautelares e emitida após solicitação da corporação. Ou seja, a própria Polícia Militar do Paraná fez questão de devolver às ruas o policial com processos por crimes hediondos.
O Ministério Público foi contra, alegando “justo receio de que o réu retorne ao serviço operacional e utilize da sua função pública para prática de infrações penais”.
O depoimento da criança no caso da morte de Pedro de Melo Domingos foi taxativo, e contou que Pedro levou tapas no rosto antes de ser determinado que ela deixasse o local. O menino disse, ainda, que ouviu os disparos contra o carroceiro. Para a Promotoria de Justiça do Júri de Londrina, não restou dúvidas de que se tratou da execução de um inocente, sem que sequer uma criança fosse poupada da crueldade.
Além de outros processos sigilosos, o policial Julio Cesar também está envolvido na Chacina do Jardim Felicidade, em fevereiro de 2024, quando seis jovens foram executados, um deles enquanto dormia.
Nesse caso, o PM Luiz Ricardo, envolvido junto com Julio Cesar na morte de Kelvin e Wender, também foi apontado como participante do crime.
Somadas, são mais de vinte as mortes conhecidas com envolvimento de Julio Cesar.
Na favela da Bratac, onde Kelvin e Wender foram assassinados, Julio Cesar é conhecido como matador. O policial tem nos braços tatuagens que reproduzem mais de trinta crânios. Moradores da favela e mesmo policiais de Londrina contam que cada caveira seria uma pessoa que Julio Cesar matou. Não há provas, porém, de que isso seja verdade.
Medo e revolta
“O envolvimento de Julio Cesar em tantas mortes personificou uma figura de horror no imaginário e na experiência da população em Londrina. Esse policial é o símbolo do sentimento que a população tem sobre a PM do Paraná: Medo e revolta”, resume o deputado estadual Renato Freitas (PT), que acompanha os casos e pediu diversas providências para que não sejam esquecidos.
Kelvin e Wender
Kelvin e Wender foram mortos a tiros na noite de 15 de fevereiro, na Favela da Bratac, em Londrina. Segundo as famílias, os jovens, que eram colegas de trabalho, voltavam de uma comemoração quando foram executados.
Depois de protestos de moradores, “a PM passou a aterrorizar e já executou outros jovens na cidade. O clima é de terror na periferia”.
Em 9 de junho, a 11ª Promotoria de Justiça de Londrina, do Ministério Público solicitou nova prorrogação do prazo para conclusão do inquérito policial.
Em ofício, o MP relacionou seis solicitações de informações à polícia, entre elas o andamento da obtenção dos laudos da perícia sobre resíduos de disparos; a análise das imagens e áudios, em especial o minuto 4:12, quando é possível ver o momento em que o carro dos jovens passa, seguido pela polícia e, nos momentos seguintes, ocorrem os disparos; informações sobre a velocidade da viatura envolvida no caso; e o andamento de outras diligências importantes para a investigação.
Com o novo pedido de prorrogação, o inquérito pode ficar pronto até 9 de agosto.
Em paralelo, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) conduz investigação sigilosa.
O MP informou também que os familiares das vítimas acompanham a investigação por seus advogados constituídos.
“Pedimos o DNA das armas que foram apreendidas com os meninos, conforme a perícia contratada pela família recomendou, o MP pediu mais 60 dias para que o delegado entregue o restante das diligências requisitadas”, informou a advogada das famílias, Iassodara Ribeiro.
A promotoria recusou a necessidade de federalizar o caso, diante do apontamento do deputado Renato Freitas de que a atuação de policiais in loco poderia causar risco às investigações.