Denúncia recebida pelo deputado Renato Freitas aponta que pelo menos duas das três vítimas foram assassinadas e que as armas apresentadas pela polícia foram “plantadas”
Testemunhas da chamada “Operação Schinus”, que terminou com a morte de três pessoas na última terça-feira (8) de manhã, no bairro Santa Cândida, em Curitiba, denunciam ação violenta e execução de suspeitos pela polícia. O mecânico Emanuel Lourenço dos Reis, de 28 anos, e o pintor Dionatan Cordeiro Soares, de 37, foram mortos em um apartamento, enquanto o terceiro alvo, Luis Eduardo Amaral, 32, conhecido como “Boca”, foi morto em um sobrado, no Jardim Aliança.
Segundo denúncia e pessoas ouvidas pelo deputado estadual Renato Freitas (PT-PR), os dois rapazes mortos no apartamento estavam dormindo quando a polícia chegou. As testemunhas dizem que os rapazes foram executados ainda nas camas. Imagens gravadas por pessoas que entraram no apartamento após as mortes também indicam para essa versão.
Os tiros, segundo relatos, foram ouvidos “alguns minutos” depois que os policiais subiram ao apartamento. “Foram alguns minutos depois que eles subiram”, disse testemunha que pediu para não ser identificada.
“A gente conhecia o menino. Ele trabalhava no condomínio. Um menino bom que ganhava o salário dele. Todo mundo aqui está em choque e sem saber o que fazer, mas a Justiça de Deus não falha. E a gente espera por justiça também. Foi o terror. Eles levaram o HD (Disco Rígido) com as imagens das câmeras de segurança”, denuncia.
Uma das testemunhas afirma que toda ação foi gravada e que poderia comprovar as execuções. “Muita gente fala, mas está com medo de retaliação da polícia. As imagens podem mostrar o que a polícia fez sem ninguém correr risco. Se pedir, eles vão ter que mostrar, porque dá pra provar que elas foram gravadas naquele horário”, diz.
A Polícia Militar informou à imprensa inicialmente que foram apreendidas “uma espingarda calibre 12 e uma pistola 9 milímetros”. Mais tarde, no mesmo dia, o Coronel Favero, da Polícia Militar, disse em entrevista à RIC TV que “mais duas pistolas” foram encontradas.
“Chegamos a um óbito num dos alvos e dois óbitos em outro alvo. Em um alvo havia uma escopeta calibre 12 e no outro alvo, onde houve outros dois confrontos, mais duas pistolas. Alias, uma escopeta e uma pistola no primeiro confronto onde houve um óbito e nos outros dois óbitos mais duas pistolas”, corrigiu ao vivo.
Familiares de vítimas disseram que armas foram “plantadas” e que, pelo menos no apartamento, não houve resistência à ação policial.
Moradores
Outra testemunha diz que logo na chegada os policiais apontaram armas e ameaçaram o porteiro do condomínio, dizendo que ele seria preso se não entregasse as tags dos blocos.
O porteiro teria dito que não tinha as tags e, por isso, sido coagido pelos policiais. “E ele não tinha (as tags). Não ficam com o porteiro aqui”, contou testemunha que pediu para não ser identificada.
Um dos policiais teria ameaçado o porteiro de morte. “Você está vendo o que está acontecendo, né? Se você não ficar quieto vai acontecer com você também”, teria ameaçado o policial se referindo aos barulhos de tiros vindos do apartamento onde estavam as vítimas.
Moradores que estavam saindo cedo de casa para trabalhar foram revistados e também intimidados pelos policiais, segundo outra testemunha. “Colocaram arma na cabeça de quem estava saindo de casa para trabalhar. Além do terror dos tiros e da violência, as pessoas ainda foram humilhadas, revistadas várias vezes e ameaçadas. Foi uma cena de pavor logo de manhã”, acusa.
“A gente sabe que pelo menos um deles tinha passagem pela polícia, mas não justifica fazer uma operação para matar. Se eles cometeram algum crime deveriam ser julgados. Como saber se a morte deles não interessa a outros criminosos, talvez ligados à polícia?”, questionou um vizinho.
Segundo a polícia, a operação cumpria 15 mandados de busca e apreensão. O número do processo não foi divulgado.
O secretário de Estado da Segurança Pública foi ao local das mortes para aparecer para a imprensa. Ele foi citado por repórteres, mas não há entrevista dele publicada sobre o caso.
Câmeras
Na operação, segundo testemunha, policiais militares levaram embora HDs (discos rígidos) com imagens de câmeras de segurança que gravaram a ação da última terça-feira (8).
Imagens das mesmas câmeras, gravadas em maio, mostram três policiais militares dentro do condomínio, sem mandado judicial e sem a presença da síndica do prédio.
Testemunhas também afirmaram que policiais frequentavam o prédio e que tinham contato com suspeitos de tráfico de drogas frequentemente.